Análise: Death’s Door

A única certeza da vida é a morte. Embora triste para os que ficam, é esse fim que garante novos recomeços, que o tempo traga renovação e que o novo de lugar ao velho. Mas e se por acaso esse ciclo infinito fosse deturpado? Bom, é nesse mundo onde parece que algo de errado não está certo e alguns indivíduos estão vivendo mais do que deveriam que se passa Death’s Door, novo jogo da Acid Nerve (Titan Souls) e distribuído pela Devolver Digital. O game está disponível para PC, Xbox One e Xbox Series X|S e possui texto e menus em Português do Brasil.

Nessa aventura o protagonista é o Corvo – ele não é nomeado no jogo, mas vamos chamá-lo assim para facilitar. Os corvos são as entidades responsáveis por recolher as almas daqueles cuja hora fatídica chegou. Contudo a “companhia” anda meio parada, a morte anda escassa e alguns fatos estão deixando os corvos meio intrigados. Independente disso, nosso colega é incumbido de recolher uma alma importante e assim parte para a tarefa.

Como toda boa história, algo dá errado e o Corvo acaba entrando em uma jornada que irá tirar o mundo da sua mesmice e certamente mexer com entidades que não querem serem incomodadas.

Apesar desse contexto um tanto quanto sombrio, o mundo de Death’s Door é fantástico, com uma bela variação de localidades, oponentes e dos outros habitantes, das montanhas mais altas até pântanos alagados. Toda essa construção mais um belo texto faz com que não demore muito para nos apegarmos a esse universo e aos outros personagens que encontramos no caminho. São construções singelas mas ao mesmo tempo simpáticas, dando alguma importância a elas em nossa jornada.  Aliás é incrível como o game trabalha muito bem com o tema da morte, com humor quando precisa, mas sabendo dosar os momentos mais delicados.

Visualmente Death’s Door também impressiona com seus lindos gráficos e sua direção de arte bem executada. Como mencionei no parágrafo acima, nossa jornada passará por diferentes locais e todos são belamente portados, com a visão sempre da câmera isométrica. Na mesma levada da parte visual a trilha sonora é magnífica, com músicas se mantendo só no piano e outras, especialmente as lutas de chefe, agitadas e pesadas, exatamente como a situação pede. Sem brincadeira, é daquelas trilhas que você coloca para ouvir mesmo depois de terminar o game.

Exploração e Batalha

Death’s Door traz interessantes sistemas de batalha e exploração que, embora não traguem nada de inusitado, mexem muito bem com alguns conceitos já conhecidos. E vou começar falando dos mapas. E sim, eu vou fazer comparações com Dark Souls nessa análise, mas eu juro que é por uma boa causa!

Existe um hub principal, que é no “outro mundo” que interliga todas as areas. Para entrar ou sair desse lugar usamos portas que fazem a ligação entre as dimensões. Portas essas que não são meramente ilustrativas, mas que possuem um motivo de ser dentro da história. Já no “nosso mundo”, de tempos em tempos encontramos uma nova porta que, quando ativada, permite o transito livre entre os dois lados. Igual as fogueiras do nosso queridinho da From Software, mas até ai nada demais.

Essa figura te lembra um certo Cebolão?

Outro ponto sobre os mapas e esse sim mais interessante é a construção dos calabouços, sempre pensados com diversos atalhos e novos caminhos. Sabe a sensação de estar andando sem saber direito para onde, abrir uma escada e OPA, voltei para a sala principal? Algo que o primeiro Dark Sous faz muito bem? Pois é, Death’s Door também aplica esse conceito de forma precisa. Talvez só no último calabouço o level design não tenha sido o mais inspirado, mas nada que comprometa. A sensação de estar em um local que é de fato interligado, com seus corredores e salas é ótima.

Contudo aqui abro espaço para uma crítica: um mapa do mundo faz falta. Embora a progressão da campanha seja fluida, Death’s Door é um jogo que possui muitos itens escondidos, diversos atrás de barreiras impostas por equipamentos que provavelmente você ainda não terá na hora que passar por elas da primeira vez. Porém não podemos fazer nenhuma marcação, nem saber qual a porcentagem de segredos de uma região que foi desvendada. Cabe como única alternativa revisitar todos os cantos uma segunda ou terceira vez. Especialmente pensando que o principal item de exploração, o gancho, só fica disponível no fim do jogo, esse processo pode ser um pouco tedioso.

O combate de Death’s Door é bem simples. Mesmo, muito simples. O Corvo tem apenas três tipo de ataque e cinco armas ao todo – das quais quatro estão escondidas pelos mapas. Além delas existem equipamentos secundários que são destravados ao longo das dungeons. A única opção de defesa é a esquiva e é basicamente com isso que você vai lidar ao longo de todo o jogo. O desafio virá dos combates, com inimigos que podem facilmente te derrubar por qualquer descuido, o que torna tudo bem intenso. E sim, morrer é relativamente fácil. Feliz ou infelizmente nada se perde ao ser derrotado no jogo – almas, atalhos abertos ou o que quer que seja.

As batalhas com chefes são o ponto alto dessa parte. Não são muitas mas são no geral bem interessantes, sempre marcando um ponto chave da narrativa com uma luta que demanda mais atenção das mecânicas.

Na minha experiência geral os combates foram um ponto positivo mas reconheço que um “tempero” a mais seria bem vindo. Especialmente vendo o efeito do gancho (ele de novo) faz nesse aspecto. Novamente, é uma pena que esse item seja introduzido já quase na reta final da jornada. Mas insisto que para mim essa simplicidade nunca foi algo incomodo. Pelo contrário, foi uma experiência bastante agradável e desafiadora.

Nas Portas da Morte

Death’s Door é uma obra que mostra logo de cara uma qualidade de execução maravilhosa com qualidades em diversos quesitos: um level design bem pensado e aplicado, gráficos intensos e uma direção de arte primorosa além de uma trilha sonora impecável. No combate, o game também faz bonito. Embora traga um sistema simples e que talvez pudesse ser um pouco mais aprofundado, ele é bem executado e traz um bom nível de desafio. Por fim, fecha o pacote um bom conteúdo de extras e itens escondidos que dão sobrevida ao game além da campanha principal. Em resumo, um excelente título que com certeza merece sua atenção por seu trabalho refinado. Buscar o que existe atrás da Porta da Morte com certeza vale a pena!

Lá no meu canal da Twitch eu joguei um pouco de Death’s Door, confere ai!

 

Análise produzida com cópia digital de PC cedida pela Devolver Digital

 



Bruce

Jornalista, Game Designer e perito na arte das piadas de qualidade questionável. Adora sofrer em soulslike, perder horas em jRPGs e passar a vida no Final Fantasy XIV