Análise: SIFU
Vingança. De acordo com o dicionário Michaelis, é um ato lesivo praticado em nome próprio ou alheio, contra uma pessoa, para vingar-se de dano ou ofensa por ela causada. É também um dos temas mais recorrentes para inúmeras obras culturais desde os tempos antigos. E é esse caminho que tomaremos em SIFU, mais recente jogo do estúdio francês Sloclap e que foi lançado para PlayStation 4, PlayStation 5 e PC, via Epic Games Store. O game possui menus e textos em português do Brasil.
Esteja pronto para passar anos, talvez décadas da sua vida atrás daqueles que te fizeram mal. Não será uma tarefa fácil mas seu objetivo é claro e direto: derrotar os assassinos do seu pai. Você não medira esforços nesse jornada que possivelmente vai consumir toda a sua vida, mas sua determinação e suas habilidades no kung-fu são inabaláveis. E estarão com você do começo até o fim.
A história de SIFU é bastante direta. Após uma belíssima introdução, temos a cena da execução, no qual 5 guerreiros derrotam o seu antigo mestre. Você, uma pequena criança (é possível escolher o gênero do protagonista), presencia o fato e, em teoria, deveria ter morrido também. Mas sobrevive. E desde então, treinou e refinou suas habilidades nas artes marciais para buscar os cinco algozes de seu pai e ajustar as contas.
E é nessa jornada de lutas que SIFU brilha de forma bastante surpreendente. Seu combate é bastante técnico e exige precisão do jogador na execução dos ataques e das defesas. Encaixar golpes precisos e saber a melhor hora para defender, esquivar ou aparar um ataque é fundamental para se sair bem nas lutas. Cada confronto é tenso pois uma falha na defesa ou um comportamento mais displicente pode custar caro, mesmo contra inimigos normais. Isso é possível através de uma excelente aplicação de física, que dá ao jogador uma ótima sensação de impacto nos movimentos.
Ao mesmo tempo, a participação do cenário nesse jogo é fundamental. Aplicar um golpe de empurrão em um inimigo que o faça colidir com uma parede dará um dano extra. Jogar alguém de um ponto elevado pode ser letal. Itens arremessáveis podem ser ótimos para pegar de surpresa o adversário. Ter essa sensação que todo o ambiente pode ser aproveitado de alguma forma é sensacional.
Mas fica o aviso, tudo que vale ao seu favor também vale contra você. E talvez essa tenha sido uma das coisas que mais me agradou em SIFU. As regras do mundo são bem claras e valem para ambos os lados. Cabe ao jogador decidir como tirar o melhor proveito delas.
Um dos aspectos mais inusitados de SIFU é o sistema de envelhecimento. Funciona assim: sempre que você morre, seu contador de morte aumenta um ponto e é somado a sua idade. Sua jornada sempre começa aos 20 anos, então a primeira morte vai te deixar com 21 anos, a segunda com 23 e assim sucessivamente. Alguns confrontos específicos e batalhas contra chefes e sub-chefes diminuem esse contador em uma unidade. Existe também um skill específica que zera o contador. Mas sua idade nunca diminui.
A cada 10 anos que você envelhece no game vai perder um pouco da vida máxima mas vai ganhar mais dano. E seu “prazo” é de 5 décadas para resolver sua vingança. Ao passar dos 70 anos você vai atingir o dano máximo possível. Mas sua barra de vida estará menor e a próxima morte será fatal. E o que acontece depois? Você volta do começo do capítulo.
Nessa jornada podemos liberar diversas técnicas, de finalizadores a movimentos novos mas esses são perdidos uma vez que morremos pela última vez. A única forma de mantê-los é comprando a versão definitiva, que custa cinco vezes mais experiência do que a versão normal. Assim você vai querer repetir níveis para poder acumular mais XP e melhorar seu desempenho para fechar um capítulo o mais jovem possível, para seguir com essa vantagem para o seguinte.
Só não descarte os benefícios da idade avançada. Uma vez que você já estiver mais familiarizado com os controles, você pode tirar proveito do dano extra ganho com o protagonista já mais velho. No meu caso, por exemplo, terminei o segundo capítulo com 77 anos a primeira vez, mas consegui avançar bem no capítulo seguinte, a ponto de completar uma técnica permanente e desbloquear o primeiro atalho.
Os atalhos claro, não posso esquecer deles. Todas as fases tem caminhos alternativos que diminuem consideravelmente a rota até o chefe. Isso facilita na sua decisão de sair batendo em todo mundo para acumular XP ou ir direto para o confronto final e tentar poupar seus anos de vida.
SIFU não é um jogo fácil. Ele exige bastante dedicação do jogador para entender o combate e nem de longe é um game para esmagar botões. Se assemelhando um pouco a filosofia de jogos soulslike você, enquanto jogador, vai ficando melhor a medida que joga e, independente de técnicas compradas, vai se sentir mais confortável com os combates. E isso eu achei ótimo.
Contudo, senti um problema de evolução no segundo capítulo, “The Club”, que traz um pico de dificuldade muito acima do que deveria. O atalho dele não evita algumas lutas bem complicadas que podem te tirar do sério. O mais curioso é que no capítulo seguinte o desafio é mais acentuado — por isso que consegui uma boa evolução mesmo estando na idade limite. Esse ponto talvez seja o único que os desenvolvedores devam olhar para algum patch futuro ou algo do tipo.
Para amarrar essa análise preciso falar da excelente direção de arte de SIFU. Começando pela espetacular introdução que é de encher os olhos cada um dos cinco capítulos é um show a parte. de galerias de arte até becos e armazém sujos, a produção geral ficou muito bem feita. Destaque também para as finalizações e viradas de câmera que são dignas dos melhores filmes do gênero.
SIFU é uma obra que merece muitos elogios pelo seu trabalho ao trazer um combate bastante técnico, desafiador e recompensador. As formas de evolução do personagem, com a passagem de tempo e o sistema rogue-like para conseguir novas técnicas funcionam bem. E obviamente são beneficiadas pelas ótimas mecânicas de luta.
O jogo não tem um escopo gigante mas faz muito bem o que se propõe, garantido horas de diversão (e um pouco de raiva). Talvez o único tropeço seja a falta de um ajuste fino no nivelamento da dificuldade que dá um salto muito grande e depois volta para algo mais factível. Ainda sim temos aqui uma das joias de 2022, uma história de determinação e vingança que é carregada até o fim da vida. E que vale a pena ser repetida.
Quer ver como foi meu primeiro contato com o jogo? Eu fiz ele em live lá na Twitch, me segue lá!
Análise produzida com cópia digital de PS4 cedida pela Sloclap
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