Análise: HIGH SCORE – A grande história é feita de pequenas histórias

Documentários sobre a história dos games não são mais raros há algum tempo. Algumas histórias inclusive já são bem famosas, como a ascensão e queda da Atari, a supremacia da Nintendo na segunda metade dos anos 80, ou a ousadia da Sega para tentar abocanhar o mercado americano na virada para os anos 90. Ainda assim, ainda há muito o que cavucar nesse terreno. E o novo documentário da Netflix, HIGH SCORE (traduzido horrivelmente para GDLK em português) segue essa linha.

A atração conta com a narração de Charles Martinet, famoso por dublar o drãgao Paarthurnax em The Elder Scrolls V: Skyrim. E por ser a voz do Mario também. É dividida em seis capítulos, e tem seu maior valor em trazer pontos de vista menos conhecidos de narrativas famosas. O primeiro episódio fala do começo de tudo, com os primeiros arcades e o crescimento da Atari.

Ao mesmo tempo que dá espaço para Nolan Bushnell, fundador da Atari, dá voz a Rebecca Heineman, campeã do primeiro campeonato nacional de Space Invaders em 1980 nos Estados Unidos e que, anos depois, seria uma das fundadoras da Interplay Interactive. Fala sobre o conhecido sobre Toru Iwatani, criador do Pacman, até o já falecido e não tão famoso Jerry Lawson, herói responsável por criar o primeiro console com jogos armazenados em cartuchos individuais, o Channel F.

Os episódios seguintes falam sobre a Nintendo, Sega e depois se debruçam em alguns gêneros e e episódios específicos, a maioria ocorrida entre os anos 80 e 90, no “despertar” dos jogos eletrônicos. Por exemplo, obviamente que Shigeru Miyamoto aparece nessa série, mas ao invés de ser um grande destaque, o documentário prefere ouvir outras pessoas que trabalharam junto com ele, como os caras do estúdio inglês que desenvolveu Star Fox de Super Nintendo.

Todos seguem esse caminho de trazer personagens e fatos não comumente explorados das grandes histórias, o que torna o conteúdo bastante rico e interessante para diferentes tipos de público. São narrativas que vão trazer algo novo mesmo para a turma mais “hardcore”. Na outra mão, o fio da história continua sendo bem compreensível para quem tem pouco ou nenhum background do mercado de games.

Alias, a forma de contar as histórias valoriza muito o material apresentado. Os episódios não seguem uma sequencia linear de acontecimento. Um assunto puxa outro, que puxa outro, que joga para outro tópico, dai volta para o primeiro assunto e assim vai. Minha explicação pareceu confusa? É possível, mas HIGH SCORE faz um trabalho bem melhor nesse quesito, sempre instigando o espectador a ir um pouco mais além.

Talvez o único “ponto fraco” da série como um todo é que, por abordar vários assuntos e personagens para o bem de uma história maior, não há um aprofundamento maior nos fatos. Mas é algo totalmente compreensível. Muitos entrevistados ali poderiam facilmente render um único episódio só contando suas sagas pessoais. Por mais divertido que isso fosse, seria totalmente inviável.

Tom Kalinske e seu plano para destruir a Nintendo

HIGH SCORE é um grande trabalho que sai do óbvio e joga uma nova luz para grandes histórias, lembrando de nomes importantes para essa indústria e que muitas vezes acabam se perdendo no tempo. Seja lá qual for o seu nível de envolvimento com jogos, vale muito a pena assistir.



Bruce

Jornalista, Game Designer e perito na arte das piadas de qualidade questionável. Adora sofrer em soulslike, perder horas em jRPGs e passar a vida no Final Fantasy XIV