Análise: Voice of Cards: The Isle Dragon Roars
A vida as vezes pode parecer simples, como um singelo jogo de cartas. Contudo, eventualmente as coisas não são tão triviais como parecem e nos deparamos com cenários mais elaborados do que imaginávamos. As vezes isso é ruim. Mas em outras isso é bom, nos trazendo agradáveis surpresas. E nesse segundo grupo está Voice of Cards: The Isle Dragon Roars, novo jogo do time por trás da série NieR. O game está disponível para PlayStation 4, Nintendo Switch e PC.
Voice of Cards pode enganar os mais desatentos se fazendo passar por um cardgame. Tem cartas para todos lado e está até no nome, certo? Pois bem, tal conclusão não seria mais equivocada. Criado pelo time composto por Yoko Taro (Diretor Criativo), Yosuke Saito (Produtor Executivo), Keiichi Okabe (Direção Musical) e Kimihiko Fujisaka (Designer de Personagens), temos aqui um RPG no melhor estilo Final Fantasy e Dragon Quest. E um dos bons, diga-se de passagem. Vamos nos aprofundar sobre isso.
A trama de Voice Cards é bastante direta em seu começo. Um antigo Dragão voltou ao mundo e é uma grande ameaça para todos. A Rainha Nilla então declara que esse perigo deve ser exterminado e todos os aventureiros bravos o bastante estão convidados para caçar a fera. Aqueles que tiverem sucesso serão muito bem recompensados. E nesse cenários que emergimos como um grande herói!! Só que não.
O protagonista é um jovem guerreiro que vê a oportunidade perfeita para sair da pobreza. O único porém é que ele (ou a gente, no caso) não é muito forte, o que pode ser um problema na hora de enfrentar um Dragão lendário. Mesmo assim partimos nessa jornada junto com nosso companheiro Mar em busca de fortes aliados para cumprir a missão. E de preferência que não se importem com a recompensa financeira, assim nos sobra mais ouro.
Embora a premissa “clichê”, a trama evolui de forma muito satisfatória e aos poucos mais mostrando mais das suas qualidades, nos instigando a querer saber o o próximo passo. Contudo, mais importante da história não é o “sobre” ela, mas o “como” é contada. Todo o jogo é narrado pelo Game Master, a única voz que ouviremos pela campanha. Com um texto muito bem escrito que sabe nos entregar um bom nível de imersão, a ambientação nos remete ao clima dos RPGs de mesa. Na descrição das cenas, dos pensamentos dos personagens e nas batalhas.
Esse esmero com os detalhes da narrativa combina com todo o incrível trabalho artístico de Voice of Cards. A estética das cartas dá um charme todo especial ao título, com ilustrações belíssimas e toda uma direção de arte excelente. Embora não tenha nada de um cardgame ou deckbuilder, o game usa essa temática muito bem. Praticamente todos os elementos visuais são feitos de cartas — exceção do tabuleiro de combate apenas.
Esse cuidado também se ouve na trilha sonora e nos efeitos de som que fazem muito bem seu papel para nos colocar dentro do universo de Voice of Cards.
Sobre o mapa, ele merece uma atenção especial por todo seu trabalho artístico. Nos movimentamos usando uma pecinha de tabuleiro pelas cartas, que vão se revelando conforme nos aproximamos. Além das batalhas aleatórias, cada movimento pode disparar um evento independente. Podemos achar um mercador vendendo itens raros, ladrões falando sobre algum tesouro ou um monstro precisando de ajuda. Em muitos desses, temos algumas opções de interação que resultam em desfechos diferentes.
Mecanicamente, Voice of Cards é um JRPG dos mais tradicionais. Com um grupo de 3 personagens, as batalhas normais se dão por encontros aleatórios no mapa. Cada um dos heróis pode equipar até 4 técnicas para serem usadas em batalha, que ocorre em turnos. Também há armas e equipamentos, usados da mesma forma que qualquer Final Fantasy, assim como poderes elementais, buffs e debuffs.
O único ponto diferente é o uso da mana. Técnicas possuem custo de cristais, que são acumulados um por turno, até um máximo de 10 simultâneos. O sistema me lembrou de certa forma o uso de mana em Hearthstone, com a diferença que seus oponentes não dependem dessa mecânica. Como os cristais são compartilhados entre todo o grupo, é preciso equilibrar seu uso para sempre ter a disposição quando necessário.
Mas não espere por confrontos super elaborados e, talvez, seja aqui que o jogo perca alguns pontos no longo prazo. Não tive qualquer dificuldade com as batalhas até um ponto bem avançado na campanha e, até então mal precisei pensar em alguma estratégia de combate. Com essa característica, ao longo termo, as lutas podem ficar um pouco monótonas. Voice of Cards vai te conquistar pela história ou ambientação, não pelo seu desafio.
Caso você tenha chego até aqui e tenha ficado chateado que no fim das contas Voice of Cards não é um jogo de cartas, há um prêmio de consolação. Há um minigame chamado Game Parlor que é jogado com um baralho convencional. As regras dele são simples e, segundo fontes, se assemelha ao Buraco — que eu não sei jogar, desculpem. A ideia é juntar grupos de 2 ou 3 cartas iguais ou em sequencia para, no final, ter a maior pontuação. O tutorial de explicação é bem direto e muito fácil pegar o jeito. Da até para arriscar jogar off-line com aquele seu Copag velho de guerra.
Voice of Cards: The Isle Dragon Roars é um projeto menor da Square Enix mas de forma alguma merece menos atenção. Sendo um “RPG feito de cartas” mas não um “RPG de cartas”, como dito nas propagandas, o jogo encontra um lugar bem interessante em trazer algo com uma roupagem diferente do habitual. Uma ótima ideia que possui uma execução muito bem realizada. A imersão que o jogo proporciona é fantástica. Com uma história envolvente dentro da sua proposta, é uma ótima opção para quem quer um jogo simples e divertido.
Se você ficou curioso, você também pode ver um pouco do gameplay que Kushina vez lá na Twitch. É bem no comecinho, então pode ir tranquilo que não tem spoilers.
Análise produzida com cópia digital de PS4 cedida pela Square Enix
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