Análise: Nanotale – Typing Chronicles

O mundo é um lugar repleto de segredos e mistérios. Imagine o quão interessante seria sair por ai escrevendo sobre eles, fazendo registros e se aprofundando em conhecimentos de outras culturas. Coloque magia nessa equação. Fantástico né? Para fechar, um teclado. Sim, isso mesmo, um teclado. Porque ele vai ser sua principal arma em Nanotale, um RPG de digitação do estúdio belga Fishing Cactus.

O principal diferencial de Nanotale é o seu gameplay totalmente baseado na escrita. Da movimentação da interação com NPCs e elementos do cenários, resolução de puzzles e até mesmo no confronto com inimigos, TUDO é feito com o teclado. Nem mesmo a navegação pelos menus foge desse padrão – embora o mouse possa ser usado nos menus, pela praticidade. E o que é uma ideia pouco usual acabou se mostrando um gameplay muito interessante.

Vale notar que essa não é a primeira vez que a Fishing Cactus faz algo no estilo. Em 2016 eles lançaram Epistoly, um game com uma filosofia muito parecida, mas em um mundo de origamis. Dessa vez a protagonista da história é Rosalinda, uma maga arquivista iniciante que saiu pelo mundo para descobrir os mistérios da Magia Verdadeira. Nisso, nossa heroína descobre que algum outro tipo de magia está criando problemas na floresta e decide investigar o problema enquanto nesse processo vai aprendendo mais sobre o uso da magia.

Nanotale traz uma narrativa interessante, mas na minha experiência o que mais me chamou atenção foi a construção do mundo em si, refletida na exploração de plantas, lugares e animais. Cada elemento inspecionando dá ao jogador pontos de experiência e em determinados pontos libera pequenos trechos que falam mais não só do item em si mas como ele se envolve no mundo, contando tradições antigas, hábitos dos povoados ou meras trivialidades, mas que ajudam a compor um mundo mais vivo.

Não quero gerar falsas expectativas e dar a impressão de que falamos de um épico de grandes proporções. Nem é essa a intenção do game. Mas se percebe um cuidado muito grande em criar um mundo coeso e interessante. E cuja exploração é bastante recompensadora.

Escreva sua história

Certo, o que mais chama atenção no jogo é sua mecânica principal, a digitação, então vou explicar como ela funciona. Apertando a Barra de Espaço, Rosalinda fica imóvel e entra no modo de escrita. Quando faz isso, todos os elementos do cenário que permitem alguma interação se destacam com as palavras. Digite a palavra certa e ação acontece. Vale para inspecionar um elemento, continuar uma conversa com um NPC, executar um teleporte ou atacar os inimigos. Então provavelmente você vai terminar esse jogo digitando muito melhor do que quando o começar.

E muito importante é frisar que o jogo tem total suporte ao português brasileiro, o que é vital para alcançar o público aqui. Alias, Nanotale oferece suporte para 11 idiomas, então pode ser até uma boa alternativa para ampliar seu vocabulário no aprendizado em outra língua. Não é o objetivo do game, mas acaba sendo um “efeito colateral”.

Sobre as palavras, é interessante notar que não são somente termos aleatórios que aparecem sem nexo. As expressões se relacionam de alguma forma com o objeto, seja por suas características físicas, seu contexto no mundo ou mesmo sentimentos e emoções. Por exemplo, os inimigos menores geralmente aparecerão com palavras como “lixo”, “manada”, “asco”, etc.

Sempre que Rosalinda sobe de nível ela pode escolher uma entre três habilidades para progredir do jogo. Coisas como dar mais dano em tipos específicos de inimigos, aumentar a velocidade da raposa, que serve como sua montaria ou diminuir o custo de mana em ataques errados são alguns exemplos. O jogo tem uma sessão no menu só para os registros de habilidades, monstros, criaturas e locais que pode ser acessado.

As palavras na barra inferior servem para montar o combo de ataque. O jogador pode usar um termo de cada setor para realizar sua ação. Ah e os inimigos não param enquanto você digita, tá? 😉

Mas preciso dizer que só a digitação não é o que segura Nanotale pela sua campanha. É uma ótima ferramenta que é usada em conjunto com puzzles diversos impostos ao jogador para avançar na história e chegar nos objetivos pedidos. Brincar com os elementos do cenário, inclusive, é uma ótima forma de de buscar soluções e enfrentar monstros diferentes. Há um nível de liberdade que lembra o que é feito na série Magica, mas bem mais contida obviamente.  Ainda assim, o jogador consegue brincar um pouco com as ferramentas que tem a mão, e que vão aumentando ao longo da jogo. Os desafios, seguindo ao mesmo passo, sempre foram apresentados na medida.

Talvez eu possa  dizer que por vezes a minha maior dificuldade era acertar escrever as palavras rapidamente, mas ai é problema desse redator que vos escreve. Talvez o único ponto do jogo que me desagradou foi sua interface para as missões. Além da quest principal existem missões paralelas que entregam um pouco mais de história, além dos pontos de experiência. A forma como elas estão no mapa não me pareceu a mais intuitiva, não dá para trocar o objetivo ou destacar eles no mapa. Nada grave e que pode até ser aprimorado em algum patch.

Várias regiões contam com névoas e vegetações altas que permite ficar escondido da visão dos inimigos. Mas o mesmo vale para eles – embora você jogador possa vê-los, não pode mirar em uma criatura escondida.

Nanotale – Typing Chronicles foi uma grata surpresa na minha lista de jogos. Com certeza ele chama a atenção pelo seu método de controle pouco usual, mas ele é muito mais do que isso. Ele usa essa ferramenta a seu favor combinado com um bom design de níveis, propondo puzzles que pedem ao jogador que pense com atenção. O jogo saiu em sua versão final em 31 de março e está disponível para PC, no Steam e na GOG.

 

Análise produzida com cópia digital de PC cedida pela Fishing Cactus, via assessoria de imprensa



Bruce

Jornalista, Game Designer e perito na arte das piadas de qualidade questionável. Adora sofrer em soulslike, perder horas em jRPGs e passar a vida no Final Fantasy XIV