Control e a magia do Labirinto do Cinzeiro

Control foi lançado em agosto de 2019 pela Remedy, mas só tive a oportunidade de jogá-lo no último mês de abril. Um game fantástico, recomendo fortemente, mas que não deixa de ser estranho. Ou melhor dizendo, é um game que fala do estranho. O motor narrativo que faz as peças girarem é o Departamento Federal de Controle (DFC), especializado em tratar de casos sobrenaturais, e abrigado em um prédio que por si só já é uma manifestação fora da nossa realidade. Um mundo no qual as leis da física e a lógica são desafiadas a todo momento.  Conforme Jesse Fayden começa a desvendar os segredos e podres da DFC, e não são poucos, o improvável vai se tornando algo rotineiro.

Objetos que abrigam dimensões paralelas, salas que mudam de forma e entidades que se manifestam de diferentes formas e podem ou não estar do seu lado são alguns exemplos. Essa linha de pensamento se aplica também à protagonista que, como algumas horas de jogo, acumula poderes que deixariam qualquer Mestre Jedi no chão com seus poderes: controle mental, telecinese, levitação, entre outros. Fora uma arma que pode assumir diversas formas bastante distintas.

Ainda assim, por mais que mergulhemos no universo de Control, nada vai te preparar para o Labirinto do Cinzeiro, que subverte tudo o que foi visto até aquele momento. E eu recomendo fortemente que se você não passou por essa parte, vá jogar Control e volte aqui depois. Sério mesmo, eu espero, pode ficar tranquilo. Vale a pena. Pode me cobrar depois.

Conforme citei anteriormente, o mundo de Control não respeita em nada nossas regras convencionais. Mas apesar das situações bizarras que você vai encarar – com uma direção de arte magnífica, diga-se de passagem – as coisas seguem uma evolução “linear”. Aprendemos a esperar o estranho. O que torna a quebra brutal de ritmo  do Labirinto do Cinzeiro ainda mais incrível. O trecho, que parte do penúltimo capítulo da história, “Polaris” coloca a prova tudo que aprendemos ao longo da campanha ao mesmo tempo de uma forma magistral, em uma sequencia que poderia facilmente encerrar o game.

A entrada do labirinto pode ser encontrada relativamente cedo no game, mas como um espaço designado como “a última e mais poderosa linha de defesa”, só podemos dar voltas em círculos sem a chave correta para avançarmos. E essa chave é um walkman que nos é entregue por Ahti, o faxineiro extremamente suspeito mas amigável do DFC.

O primeiro “susto” vêm da música que começa a tocar ao Jesse colocar os fones de ouvido. Destoando de toda a trilha do game executada até então, começa um rock para lá de pesado, com uma batida forte e empolgante. É a faixa “Take Control” do Old Gods of Asgard, alter ego do Poets of the Fall, que mais uma vez reprisam esse papel, após sua participação em Alan Wake – que, vejam só, se passa no mesmo universo de Control.

A música por si só é fantástica. Provavelmente vai estar no meu top 5 do Spotify no final do ano. E seria sensacional uma sequência de ação embalada por essa batida. Mas o Labirinto do Cinzeiro é mais do que isso.

Com salas que se constroem e se desmontam em uma fluidez incrível, a sensação de grandiosidade do momento é transmitida de forma muito eficaz. No caminho, diversos tipos de inimigos vão se colocando em seu caminho, como uma provação, para você colocar em prática todos os superpoderes aprendidos até aquele momento. Pega bomba no ar, arremessa de volta, dá um encontrão, atira, troca de arma, atira de novo, pega o inimigo, joga no outro inimigo. Tudo isso em um ritmo frenético.

Mas há passagens calmas também, pausas entre as arenas de combate. E essas ligações, que poderiam ser o elo fraco do trecho, pelo contrário reforçam ainda mais suas qualidades. Além de um ótimo level design, que equilibra muito bem as sequências, a Remedy fez um trabalho fantástico de sincronização do áudio da música com as ações do jogador. Nos confrontos a batida é rápida, raivosa. Nos momentos de plataforma, a música entra em seus momentos mais calmos. Essas transições são feitas de forma bastante natural, casando com o avanço no labirinto, nos fazendo perguntar como eles conseguiram tal façanha?

Sinceramente posso até cogitar que o único problema do Labirinto do Cinzeiro é que ele acaba, mas acredito que nem isso é algo ruim, pois sua duração é precisa para nos dar uma experiência magnifica sem espremer o formato. Para complementar, deixo aqui um vídeo do diretor do jogo, Mikael Kasurinen, falando sobre como foi o processo de criação do Labirinto do Cinzeiro. E algo curioso, apesar do nome “Labirinto”, tecnicamente a sequência é uma linha única do ponto A ao B, embora nós nunca tenhamos essa sensação, o que a torna ainda mais fantástica.

Com tranquilidade digo que o Labirinto do Cinzeiro é uma das minhas sequências de ação está entre as minhas preferidas de tudo que já joguei. Compartilhando a fala de Jesse logo após sair do labirinto, em poucas palavras, “foi foda!”.



Bruce

Jornalista, Game Designer e perito na arte das piadas de qualidade questionável. Adora sofrer em soulslike, perder horas em jRPGs e passar a vida no Final Fantasy XIV

2 thoughts on “Control e a magia do Labirinto do Cinzeiro

Fechado para comentários.