Análise: Marvel’s Guardians of the Galaxy

Douglas Adams escreveu algo muito interessante sobre o universo em sua série de livros do Guia do Mochileiro das Galáxias. Disse ele que “Há uma teoria que indica que se alguém descobrir exatamente para que e porque o universo está aqui, o mesmo desaparecerá e será substituído imediatamente por algo ainda mais bizarro e inexplicável… Há uma outra teoria que indica que isto já aconteceu”.

Em um nível de loucura que só um universo como o nosso poderia proporcionar temos uma aventura inédita dos Guardiões da Galáxia, nesse novo jogo da Square Enix desenvolvido pela Eidos Montreal. E devo dizer que o trabalho feito aqui entra facilmente como um dos melhores lançamentos desse 2021. Com um sistema de batalha interessante e com um grande apelo a seus personagens e a história, é uma excelente fonte de divertimento. O título está disponível para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series S|X e PC. O Switch ganhou uma versão Cloud.

Cura esse cara, mas ao contrário!

Imagino que nessa altura do campeonato todo mundo já conheça os Guardiões da Galáxia mas caso alguém aqui tenha vivido os últimos anos em um planeta distante, vou resumir: o time de heróis desajustados ficou famoso do grande público após o filme de 2014. Muito longe de serem paladinos da justiça, o grupo liderado por Peter Quill, o Senhor das Estrelas (Starlord), conta com Gamora, Drax, Groot e Rocket Racoon.

O que faz os Guardiões da Galáxia serem tão diferentes de outros grupos é a inconsequência e humor que eles carregam nas suas histórias, além de serem, de certo modo, renegados pela sociedade. Embora lutem pelo bem, todo mundo é fichado pela polícia espacial, já cometeu algum delito aqui ou ali e provavelmente tem a cabeça a prêmio em alguns quadrantes da galáxia. Um bando de irresponsáveis? Talvez, mas mais do que isso, uma família de irresponsáveis.

Por motivos diversos todos dos grupo perderam muito em seu passado então, apesar de estarem sempre se estapeando, eles sabem que só tem um ao outro para seguir em frente. E dão muito valor a isso. Embora dificilmente admitam em voz alta.

O jogo traz uma história completamente original então se por acaso você nunca leu ou viu nada de Guardiões, pode chegar aqui sem medo. A trama começa com o grupo se enfiando em uma zona de quarentena atrás de um monstro que possa ser vendido para uma famosa colecionadora. Depois disso é uma sucessão de vários “algo deu errado”. Não vou entrar em detalhes para não estragar surpresas, mas garanto que a história se sustenta muito bem, com boas reviravoltas e um sentimento de urgência para se resolver o próximo problema.

Bom notar que Guardians of the Galaxy tem uma história linear, dividida em capítulos e essa se mostrou uma decisão acertada da Eidos Montreal. Uma progressão focada ajuda a dar mais foco na evolução da trama e dos personagens. Só não pense que isso limita a variedade de ambientes nos quais passamos. Os Guardiões viajam por diversos lugares do espaço, ambientes diferentes e bem construídos. Sempre muito colorido e chamativos.

Vale mencionar que mesmo a estrutura de narrativa sendo linear, ela ainda abre espaço para algumas escolhas do jogador que possuem impacto futuro. Não são decisões que mudarão os plots centrais, mas que podem trazer novos diálogos ou cenas, liberar acesso a colecionáveis e até mesmo trechos diferentes de gameplay.

Algo que adiciona muito ao mundo de Guardiões são as conversas paralelas entre os membros do grupo. O tempo todo tem alguém falando algo e, sendo bem sincero, em alguns momentos eu parei tudo só para ouvir mais dessas conversas. São nessas pequenas interações, as vezes bobas, que conseguimos pegar mais dos personagens e vamos nos afeiçoando ainda mais com cada um.

Para fechar esse bloco, o jogo está completamente localizado em português do Brasil e o trabalho de adaptação está excelente. As vozes nacionais dos protagonistas são os mesmos dubladores dos filmes e todo o texto foi muito bem redigido. Não lembro de outro jogo que tenha me arrancado tantas risadas, várias vezes por diálogos em segundo plano ou no meio da batalha.

Pé na porta e soco na cara!

O combate de Guardians of the Galaxy eu carinhosamente chamo de briga de bar e falo isso da forma mais positiva possível. Parece uma zona, é muita gente se batendo ao mesmo tempo mas ainda assim é muito bom e com uma compreensão bem simples e bem divertida.

Temos controle total somente de Peter Quill, e seu principal ataque é com as armas laser. Você pode também descer o soco nos inimigos mas os tiros são sua principal fonte de dano. Os outros guardiões são comandados pela IA, cabendo ao jogador ordenar o uso das habilidades especiais (4 ao todo) para cada um. Gamora pode executar grandes quantidades de dano individual, Drax é bom para stun e inimigos com escudo, Rocky usa suas bombas e explosões para dano em área enquanto Groot brilha no controle de grupo.

O segundo momento no qual damos ordens aos outros personagens são por ataques de cenário, que permitem a Drax arremessar pedras ou Gamora cortar alguma caixa suspensa para atingir inimigos. Peter, por outro lado, além das habilidades normais tem tiros elementais, que são desbloqueados ao longo da história. Em resumo é isso, um sistema bem simples mas que funciona muito bem.

Os comandos no controle são fáceis de usar e por mais que os combates sejam frenéticos, a Eidos Montreal achou um bom ponto de equilíbrio para que ele fosse caótico no ponto certo. Jogando na dificuldade normal, o jogo teve uma curva de desafio muito suave. Os confrontos são mais estilosos do que desafiadores, talvez exceto pelo arco final do jogo. Embora isso possa ser um problema para alguns na minha experiência essa característica teve zero ponto negativo.

Ainda no combate um extra muito legal é a barra de Agrupamento que vai se acumulando durante o combate. Quando cheia, você pode usá-la para fazer uma “reunião de estratégia” com seus companheiros. Eles irão falar algumas frases e você deverá escolher uma resposta que se encaixe no contexto. Por exemplo se estiverem desanimados, você precisa dar uma injeção de animo. Se estiverem muito confiantes ai é bom dizer algo mais pé no chão.

Dando a resposta correta, todos os personagens irão ganhar bônus de status e irão com mais força para a briga. E uma das músicas da trilha sonora começa a tocar para dar aquela empolgada marota. Se você errar a resposta, só Peter ganha os bônus. Alias vamos falar da trilha sonora?

Zero to Hero

A música desse jogo é incrível! Quem conhece os filmes sabe que a trilha sonora é uma das grandes marcas dos Guardiões da Galáxia e aqui não é diferente. Mas também é! Enquanto os longas metragem trazem mais um pop do final dos anos 70, aqui a pegada é mais rock’n’roll dos anos 80. Motley Crue, Bonnie Tyler, Tears for Fears, Kiss, Def Leppard, Iron Maiden, Billy Idol são só alguns dos nomes que estão na trilha licenciada.

Algumas dessas músicas tocam em momentos específicos da história, mas você pode ouvir todas elas no rádio da Milano, a nave dos Guardiões. E todas elas tem chance de aparecer no ataque de equipe. Inicialmente eu até pensei que seria bacana poder ouvir as canções no meio das batalhas, mas isso tiraria a força delas na hora dos ataques especiais. Melhor do jeito que está.

Mas não é só isso! A Eidos Montreal também criou uma banda própria para o jogo, Star-Lord, que por acaso serve para dar nome ao nosso protagonista. E eles montaram um disco completo de 9 faixas do mais competente metal farofa dos anos 80.

Para amarrar essa análise, joguei o game em um PlayStation 4 Slim e ele teve uma performance bem satisfatória. As vezes dava para notar alguns efeitos que claramente pediam muito do console mas nada que chegasse perto de estragar a experiência. Eventualmente apareceram alguns bugs que me obrigaram a reiniciar no último checkpoint, um inimigo ficar travado por exemplo, mas foram umas 3 ou 4 vezes no máximo ao longo da campanha.

Marvel’s Guardians of the Galaxy entra facilmente na lista dos melhores jogos de heróis já feitos. Com mecânicas de batalhas relativamente simples, mas funcionais, o game prioriza o desenvolvimento de uma narrativa consistente e construir personagens críveis e com os quais nos apegamos ao longo da jornada. As escolhas de falas e diferentes opções de rotas, embora não tenham impacto no cenário geral são suficientes para trazer novas e interessantes variações de roteiro.

É uma boa história sobre heróis que ao mesmo tempo que tentam arrumar o universo, ainda tem que lidar com passados mal resolvidos e formas de seguir em frente. E no fim das contas essa é uma das premissas dos guardiões, a ideia de que “juntos somos mais fortes”.

 

Análise produzida com cópia digital de PS4 cedida pela Square Enix

 



Bruce

Jornalista, Game Designer e perito na arte das piadas de qualidade questionável. Adora sofrer em soulslike, perder horas em jRPGs e passar a vida no Final Fantasy XIV

3 thoughts on “Análise: Marvel’s Guardians of the Galaxy

Fechado para comentários.