Análise: Crown Trick
Algo que eu gosto nessa vida de cobertura de jogos é encontrar títulos que conseguem inovar de formas diferentes fórmulas já bem conhecidas. Não que todo game precise reinventar a roda, não é sobre isso, mas é excelente achar casos nos quais vemos boas ideias sendo aplicadas e trazendo coisas novas para o cenário. E esse é o caso de Crown Trick, jogo da NEXT Studios que já estava disponível para Switch e PC desde o ano passado e chegou recentemente para PlayStation 4 e Xbox One, com textos totalmente em português.
Primeiramente preciso falar da linda arte do jogo. Todas os desenhos, sprites e cenários são muito bem feitos e cheios de detalhes. As animações durante a batalha, em especial, ficaram muito bem feitas. Um ótimo trabalho do estúdio nessa parte.
Mas apesar da boa estética, o diferencial do jogo está no gameplay. Crown Trick pega elementos de RPGs táticos de turno com roguelikes, coloca tudo em uma grande bacia e nos traz uma mistura bastante interessante e desafiadora. E explicar ela aqui vai ser um belo trabalho. Vamos começar pelo combate, que é o grande destaque do título. A protagonista do jogo é Elle, uma garota que está presa entre o mundo dos Sonhos e dos Pesadelos e, para sair desse meio vai precisar da ajuda da Coroa, que é quem dá as habilidades principais.
A movimentação de Elle é livre como em um jogo de ação, mesmo no combate. Contudo na hora das lutas, cada movimento da personagem pelo campo, também corresponde a um movimento de todos os inimigos da área. Quando um se mexe, todo mundo se mexe. Assim entender o posicionamento nas batalhas é fundamental para o sucesso na missão, para sair da área de ataques inimigos e colocar os oponentes dentro dos seus ataques.
Enquanto nas salas normais é até possível ser um pouco desleixado, nos confrontos contra chefes geralmente não há muito espaço para erro. É comum ter muita coisa acontecendo na tela e não medir seus próximos passos pode ser um caminho sem volta. E nessa movimentação, é muito importante o uso do Salto que literalmente permite que Elle se reposicione por uma grande distância com um único movimento.
Elle tem uma grande opção de armas — espadas, machados, rifles, adagas duplas, lanças e mais algumas outras. Cada uma tem uma área de alcance. Além disso, cada arma tem atributos próprios, com diferentes níveis de raridade, e as vezes até com propriedades elementais. Assim, duas armas de nomes iguais podem ter características diferentes.
Falando de elementos, eles tem muita importância dentro do gameplay. Inimigos tem imunidades e fraquezas distintas contra fogo, vento, veneno ou eletricidade. Além das armas, é possível gerar esse tipo de dano de duas outras formas: com os espíritos de chefes derrotados, que dão magias adicionais a Elle, e manipulando o próprio cenário. Por exemplo se houver uma poça de água, ela pode ser usada para aumentar o dano elétrico. Mas lembre que os inimigos também podem tirar proveito disso (e ele vão!).
Além de todas essas mecânicas não podemos nos esquecer que Crown Trick é um roguelike. Sempre que você morre, volta para o hub inicial, local onde você pode desbloquear alguns mercadores que irão vender melhorias permanentes. Fora disso, tudo que você pegar será perdido: armas, relíquias, bônus de status. Tipos e modelos diferentes de armas são desbloqueados em determinados pontos, podendo serem pegos nos drops das dungeons.
Também ao longo das dungeons você irá achar desafios aleatórios que podem te premiar com algum item raro ou mesmo te jogar em uma batalha surpresa. E a forma como esses desafios são apresentados é bem interessante, contanto uma pequena historinha para contextualizar a ação.
Evidentemente o título tem alguns escorregões na minha opinião. O principal deles é uma falta de um melhor ajuste fino quanto à progressão. A coleta de itens é completamente aleatória e isso pode ser um pouco frustrante se você der muito azar nos baús, especialmente nas horas inicias do jogo — eventualmente isso pode ser algo bom, por sempre trazer uma play diferente. Sobre as melhoras permanentes compradas no hub, nem todas parecem fazer alguma diferença de fato. Isso deixava a sensação de evolução de Elle um pouco indefinida.
Crown Trick traz um saldo bastante positivo na mistura de batalhas por turnos com o sistema de roguelike. Essa mistura de estilos foi uma boa aposta da desenvolvedora que conseguiu uma resposta bastante interessante para esse desafio. O que parece um combate simples envolve várias camadas de complexidade, exigindo bom pensamento estratégico do jogador. As vezes a curva de dificuldade do game pode sair do eixo (para cima ou para baixo), mas no geral é bom ver uma proposta diferente tomando forma e trazendo muito mais acertos do que erros. Vale muito a pena conferir.
Quer ver como foi meu primeiro contato com o jogo? Eu fiz ele em live lá na Twitch, me segue lá!
Análise produzida com cópia digital de PS4 cedida pela Team17