Entendendo a venda da Eidos pela Square Enix
A notícia do dia nesse nosso mercado de jogos eletrônicos foi a venda pela Square Enix de três das suas desenvolvedoras: a Square Enix Montréal, a Eidos Montréal e a Crystal Dynamics, que agora fazem parte do Embracer, empresa da Suécia que já trabalha com diversas outras publicadoras e desenvolvedoras.
Para entender com calma o que aconteceu, vamos por partes.
O que foi vendido?
A operação envolve três estúdios que até então eram de propriedade da Square Enix desde 2009 e todas as franquias e propriedades intelectuais relacionadas a eles.
Crystal Dynamics: fundado em 1992, seus primeiros jogos de sucesso foram Pandemonium 1 e 2 e Legacy of Kain: Soul Reaver. Em 1998 foi comprada pela Eidos Interactive, se tornando uma subsidiária da mesma. Desde 2006 estão a frente da série da Lara Croft, com Tomb Raider Legend, passando pelo reboot de 2013. Possui cerca de 300 funcionários em quatro escritórios nos Estados Unidos. Recentemente anunciou estar trabalhando em um novo Tomb Raider usando a Unreal Engine 5.
Eidos Montréal: fundado em 2007 pela antiga Eidos Interactive. Responsável pela série Deus EX desde 2011, o reboot de Thief e Shadows of Tomb Raider, o projeto mais recente da desenvolvedora foi o ótimo Marvel’s Guardians of the Galaxy. Possui quase 500 funcionários entre seus dois escritórios no Canadá e um terceiro em Xangai, China.
Square Enix Montréal: fundado em 2011, o foco dessa equipe foram os jogos mobile. Produziu três jogos da série Hitman, Lara Croft Go e Deus Ex Go. O último projeto lançado foi Hitman Sniper Assassins, em 2021. Possui 150 funcionários entre seus dois escritórios de Montreal e Londres.
Os comunicados oficiais dão conta que todos os jogos relacionados ao estúdios entraram junto no negócio, em um catálogo de mais de 50 títulos – embora nenhuma lista oficial tenha sido divulgada até agora.
Com a negociação, a Square Enix praticamente se desfaz do seu braço de desenvolvimento no ocidente. Obviamente a empresa continua com presença nas Américas e Europa mas, de forma geral, passa a exercer o papel de publicadora nessas regiões. Outras franquias como Just Cause, Outriders e Life is Strange – desenvolvidos por estúdios terceiros – continuam com a empresa japonesa, que é a dona das marcas.
Quem é a Embracer?
É uma companhia de mídia da Suécia que, de forma resumida, é daquelas empresas que gerenciam outras empresas. Atualmente eles são proprietários da THQ Nordic, Koch Media, Gearbox, Coffe Stain Studios e da Dark Horse Comics, entre outros. Eles afirmam ter cerca de 12.500 funcionários em 40 países diferentes. É um conglomerado gigante!
Conglomerado esse que está bem atento ao mercado. De 2020 para cá eles fizeram sete aquisições do tipo, comprando empresas como a Flying Wild Hog (Shadow Warrior 3) e Perfect World, responsável pelo MMO de mesmo nome. O total das operações dá quase US$ 2.3 BILHÕES!!!
A venda dos estúdios da Square Enix foi de US$ 300 milhões e bom lembrar que ainda não está 100% fechada, dependendo de aprovação de órgãos competentes. Se tudo ocorrer dentro do planejado, deve ser concluída até setembro deste ano.
E aqui começa o primeiro ponto de discussão. Por uma equipe de mais de 1000 pessoas e um catálogo de títulos tão vastos e famosos seria esse valor suficiente? Bom, não vou trazer aqui uma Microsoft e seus bilhões infinitos, mas separei algumas operações com valores aproximados.
Em 2019 a Sony adquiriu a Insomniac Games (Marvel’s Spider-Man, Sunset Overdrive) por US$229 milhões. Dois anos antes, em 2017, a Eletronic Arts comprou a Respawn Entertaiment (Titanfall, Jedi: Fallen Order) por US$315 milhões. A própria Embracer adquiriu a Aspyr, empresa que fez seu nome com ports de jogos para MacOS e mais tarde para outras plataformas, por US$450 milhões em 2021.
O que acontece agora?
Para os estúdios ocidentais a esperança é que possam desenvolver novos projetos, seja com marcas já criadas ou novas. É preciso lembrar que nas mãos da Square Enix os estúdios não estavam desempenhando o seu melhor nos últimos tempos. Seria razoável dizer inclusive que estava sendo subaproveitados pela matriz.
Relatórios dos últimos anos apontavam que os jogos desses estúdios não vinham atingindo sucessos comerciais com seus lançamentos recentes. Necessário dizer, contudo, que tais considerações foram bem questionadas por seus padrões exigentes, segundo alguns. Shadow of Tomb Raider, por exemplo, vendeu 4,12 milhões de unidades em três meses e foi considerado com um “ínicio fraco”. A equipe de desenvolvimento, por outro lado, se mostrou muito feliz com o resultado.
Já para a Square Enix, enquanto ela ainda possui marcas “ocidentais”, como Just Cause e Life is Strange, o desenvolvimento interno deverá se voltar aos estúdios japoneses. Jogos como Forspoken, Final Fantasy XIV, Final Fantasy XVI não devem ser influenciados por essa operação. Um ponto importante no comunicado oficial, ele diz claramente que essa transação permitirá a empresa investir em outros segmentos como blockchain, inteligência artificial e computação em nuvem.
Isso casa muito bem com declarações recentes de Yosuke Matsuda, atual presidente da empresa, que citou exatamente esses termos em sua mensagem de ano novo. Enquanto o uso de blockchains em games ainda envolve muita discussão, ninguém pode dizer que ele não está correndo atrás do que prometeu, não é mesmo?
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