Tomoya Asano, o responsável por jogos HD-2D
Muitos conhecem o nome das grandes empresas de desenvolvimento por trás de algumas renomadas franquias. Quando surge um anúncio com o aval dessas, os ânimos se implodem e é difícil controlar a expectativa. Porém, mais do que ter a assinatura dessas empresas por trás dos nossos jogos preferidos, existe outro aspecto importante que acredito merecer nossa atenção. Vou roubar uma frase repetidamente encontrada em livros de educação financeira e gestão empresarial: empresas são feitas de pessoas.
O que quero dizer com isso após essa prolixa introdução? Ultimamente eu venho mudando o meu ponto de interesse das marcas que essas empresas carregam para os desenvolvedores por trás dela. Você também deve ter feito isso, mas não percebeu. Mas se eu cito o nome de Hideo Kojima, Hidetaka Miyazaki, Shigeru Miyamoto, Todd Howard e muitos outros, talvez você perceba como dá relevância mais para eles do que as empresas que representam. Salvo o danado do Kojima!
Portanto, eis que a Mastermune decidiu pagar respeito àqueles que realmente merecem sua atenção. Desenvolvedores – alguns obscuros, outros nem tanto – que fazem a mágica acontecer por detrás da burocracia e engessada gestão empresarial. Esperamos que botando esses indivíduos nos holofotes lhe ajude a controlar a expectativa quando sua desenvolvedora favorita anunciar um game e ele não for aquilo que você espera porque o staff era composto de profissionais que não trabalharam nos jogos que você gosta. Deu pra sacar? Espero que sim.
O primeiro escolhido para estrear esse quadro é Tomoya Asano, o produtor responsável pelos agradáveis e modernos jogos HD-2D.
Currículo Profissional
Tomoya Asano é um dos mais jovens profissionais com um cargo de liderança na Square Enix, estando no início dos seus quarentão. Ele ingressou na Enix assim que se formou na universidade de Keio. Seu primeiro trabalho de destaque foi como produtor assistente em Grandia Xtreme, uma série de JRPGs antigos da Enix. Depois se tornou produtor em Robot Alchemic Drive antes de ganhar mais destaque após a fusão de SquareSoft e Enix.
Na Square Enix retomou seu cargo de produtor trabalhando em três jogos de Full Metal Alchemist. Mas se ele há algo que Asano podia fazer para chamar a atenção dos chefões da Square, era trabalhar e trabalhar bonito na franquia chefe da empresa: Final Fantasy. E assim ele o fez. Tomoya Asano foi responsável pela produção do remake de Final Fantasy III para Nintendo DS.
Com esse ítem no currículo, não demorou para que Asano participasse de outros títulos maiores na empresa como Dawn of Mana, da série Mana, e Final Fantasy IV, versão também para DS. Com tantos sucessos em sua jornada, Asano foi responsável pela produção e roteiro de um novo spin-off da franquia dos cristais, o discreto Final Fantasy: The 4 Heroes of Light.
Final Fantasy: The 4 Heroes of Light teve uma recepção boa o suficiente para passar de semestre na maior parte das universidades brasileiras, ficando com uma média de notas acima de 7. O jogo vendeu ao todo 178 mil unidades no Japão, acabando com o estoque dos varejistas. Não há dados sobre suas vendas internacionais.
A criação de uma nova franquia
Aos olhos da Square Enix, aparentemente, isso foi um estrondoso sucesso. Afinal, Tomoya Asano recebeu carta branca para produzir a sequência do jogo como quisesse. Por mais que ele pudesse escolher algo dentro da franquia Final Fantasy, ele optou por criar uma nova série, conhecida como Bravely Default.
Por um lado, Asano queria criar algo totalmente novo. Por outro, queria apostar em uma familiaridade confortável para que os jogadores não se sentissem intimidados com uma nova série de JRPG. É por isso que Bravely Default apresente inúmeros elementos de Final Fantasy, como terminologias de magias, itens, Jobs e até uma trama envolvendo cristais.
Inicialmente, seria um jogo de RPG de ação. Mas depois de apresentarem o protótipo para Asano, ele optou por um RPG de turno (brigado, Tomoya!) O produtor queria reunir o que ele considerava os três elementos centrais de RPGs (batalhas, crescimento e conexão) em Bravely Default. Um elemento importante era criar uma experiência casual que qualquer um pudesse desfrutar, mesmo que nunca tivesse jogado um RPG.
O resultado foi uma experiência incrivelmente nostálgica e saudosa, que remete aos antigos Final Fantasy. Quando vejo alguém choramingando ou reclamando sobre a direção que os Final Fantasy atuais estão levando, mais focado em ação e narrativas epicamente colossais, sugiro experimentar Bravely Default que cumpre bem o papel de preencher esse vazio existencial da geração Y.
Bravely Default lançou em 2012 e teve um sucesso estrondoso, atingindo o marco de 1 milhão de unidades vendidas em 2014, gerando duas sequências e outros spin-offs exóticos presos no Japão. A série continua firme e forte até hoje e provavelmente não irá parar tão cedo.
O marco mais importante de Bravely Default foi botar Tomoya Asano no palco que ele merecia. Não era difícil ver que Square estava confortável em deixar o homem decidir suas próximas produções. Em 2017 Asano foi nomeado chefe de sua própria divisão de negócios na Square Enix, chamada Business Division 11.
Nascimento do glorioso HD-2D
Dentro da divisão, e para nossa sorte, seu próximo projeto foi Octopath Traveler, o que culminou no nascimento do estilo gráfico conhecido como HD-2D. Não quero me alongar muito nas nuances do desenvolvimento de Octopath Traveler, então apenas direi que o JRPG foi outro sucesso para um currículo já recheado de louros de Asano, atingindo o marco de 2,5 milhões de unidades vendidas.
Eis que, em 2019, sua divisão foi reestruturada juntamente da Business Division 6, responsável por Dragon Quest e Nier, e a Business Division 7 (Jogos de Arcade) para criar a Creative Business Unit II. No entanto, dentro dela, Asano e sua equipe são conhecidos como Team Asano, pois continuam trabalhando em jogos semelhantes às suas criações anteriores.
E é exatamente a Team Asano que merece sua atenção. Seu time começou a produção e divulgação de Triangle Strategy, um SRPG feito nos moldes HD-2D. Durante entrevistas, Asano disse que o chefão da Square, Yosuke Matsuda, tinha gostado tanto de jogos HD-2D que exigiu mais produções nesse estilo. Asano então optou por fazer remakes de RPGs antigos nesses moldes e o primeiro a ser divulgado foi Dragon Quest III: HD-2D.
Depois, Asano disse que fez um apunhado de jogos antigos e sugeriu diversos remakes para a gerência. O escolhido da vez foi Live A Live, um JRPG de Super Nintendo até então preso na geração 16-bits e no Japão. O remake foi aprovado, produzido, divulgado e lançado, o que proporcionou notas altíssimas dos sites especializados tanto internacionais como nacionais.
Isso significa que Asano fez mais um strike. E se a história nos ensinou algo, sabemos que a Square vai dar ainda mais autonomia para o homem e adiante veremos muito mais jogos da Team Asano pela frente. Fãs de HD-2D, reúnam-se, porque o futuro é glorioso.