O dia que o rock explodiu minha cabeça
Esse post foi publicado originalmente no dia 13 de julho de 2017 em um projeto que não está mais on-line. Trarei esse e outros textos que estão escondidos no meu portfólio para uma vez mais olharem a luz do dia.
Neste 13 de junho eu estava pensando em algumas pautas que poderia escrever, em razão do dia do rock. Nas idas e vindas de pensamentos a gente acaba tendo várias ideias. Pulando entre várias linhas possíveis, quando tentava elaborar algo de como o rock mudou o mundo me peguei pensando “como o rock mudou o meu mundo?”.
Ao invés de contar histórias de turnês colossais, discos lendários, drogas e sexo de baciada, coisas que cercam a maioria das estrelas do rock, resolvi contar minha história pessoal — e quem em sonho tem alguns desses itens listados. Sabe quando aquela pequena revolução que pega a gente de surpresa e que muda nossa impressão da vida e abre caminhos que sequer sabíamos que existiam. Foi mais ou menos isso que aconteceu comigo.
Essa história começa em 1997. A música em si sempre esteve no meu cotidiano, não por influência de algum vizinho doido ou colega entusiasta. Era minha companhia nas solitárias tardes, enquanto fazia as lições de casa, brincava ou o que quer que fosse. O rádio era meu parceiro inseparável.
Influenciado pela minha tia minha estação de estimação era a Jovem Pan, famosa por tocar os artistas “da moda”. Nunca morri de amores por nenhum material em especial, mas eu sempre escutava tudo que saia por lá. As “7 melhores da Pan” sabe? Embora eu gostasse de ouvir música, não havia nenhum laço que me prendia a ela. Eu só ouvia.
As coisas começaram a mudar quando compramos uma TV nova em casa, que sintonizava os canais UHF (caramba, isso é bem coisa de velho mesmo) e que ficou no meu quarto. O que isso significou? Que agora eu teria acesso à MTV, algo que eu nem sabia que existia. Aquela MTV marota, raiz, que passava as vinhetas encharcadas de LSD e que tocava música. Conheci muitas bandas por lá mas, novamente, ainda não tinha um paladar musical específico.
Até um dia uma mísera propaganda mudar minha vida. Eram uns caras girando dentro de um quarto, cantando alguma coisa que devia ser algo muito doido, berrando uns “Yeah” vindos lá do fundo da alma e um refrão que parecia uma martelada. O que raios era aquilo? Não demorou muito para eu conseguir descobrir o que a música era The Memory Remains e a banda era o Metallica. A minha reação depois de ouvir a música foi uma só: QUE PORRA É ESSA?
Aqueles caras tinham um estilo nervoso, o vocalista era incrível com sua voz rasgada, a sala rodando, uma velha cantando e… meu Deus!! Tudo bem, eu sei que o Metallica naquela época estava em uma fase mais “suave”, mas vejam pela ótica de um garoto de 12 anos que só ouvia música enlatada. Foi um verdadeiro soco no estômago.
Não demorou muito para o segundo clipe do ReLoad pipocar e finalizar o trabalho: The Unforgiven 2. Embora seja uma música mais calma, o peso do refrão, as caras e bocas de Hetfield no clipe e cenas que pareciam não fazer muito sentido eram tudo que eu precisava, sem ao menos eu saber que eu precisava. Daí foi um pulo até comprar o álbum, o primeiro CD que comprei na vida e fazê-lo tocar como se minha vida dependesse disso.
Foi nesse momento que comecei a ir atrás de bandas mais barulhentas. Encontrei algumas, mas nenhuma superava o efeito que o Metallica tinha gerado em mim. Nas limitações dos ano 90, eu imprimi várias letras de música para traduzir, não sei quantas biografias e, na medida do possível, ia atrás de mais material deles. Foi ai que eu ouvi One.
Pela segunda vez tive aquela sensação de “QUE PORRA É ESSA?”, e dessa vez veio ainda mais forte. No alto dos meus 13 anos, “One” era a coisa mais insana que eu já tinha ouvido na vida. Devo dizer que nesse período eu tive alguns problemas na escola, no que hoje classificariam como bullying. Aquele vocal infernal, os bumbos socando meus tímpanos e as guitarras massivas me ajudaram muito a lidar com aquilo, mesmo que de forma inconsciente.
Depois disso, o resto é história. A coleção de CDs foi aumentando, a busca por bandas novas era constante ao mesmo passo que minha devoção ao Metallica só crescia e a paixão pelo rock foi aumentando até virar um amor eterno. Já não era mais ouvir música por ouvir, para quebrar o silêncio apenas. Para mim o rock foi, e ainda é, uma forma que encontrei para me entender melhor. Externar sentimentos que, de outra forma nunca fui muito hábil em demonstrar.
Não estou afirmando aqui que gostar ou não de rock te faz uma pessoa melhor ou pior. Mas gosto de pensar na música como um agente de mudança, seja rap, samba, jazz, etc. O grande lance é te expor a algo que você não está preparado. Trazer algo diferente. Te deixar indignado, incomodado, confortado, leve, feliz, te motivar ou te dizer palavras que você precisa ouvir. E foi isso que o Metallica fez comigo, me tirou da inércia ao qual eu vivia.
Agora eu deixo a pergunta para você, amigo leitor. Qual foi a música (ou as músicas) que foi sua porta de entrada para o rock’n’roll? Aquela que puxou o gatilho e fez você ouvir o mundo com outros olhos? Qual foi o rock que explodiu sua cabeça?