Invocando Final Fantasy – Bahamut

Começamos hoje uma nova série aqui no site, Invocando Final Fantasy. E do que se trata isso? Como muitos RPGs, a saga da Square Enix traz influências de muitos elementos para compor suas histórias. Dentro desses universo imenso decidi focar o trabalho nas summons, criaturas tão icônicas da franquia, seja por batalhas épicas ou sua influência nos enredos (os as vezes os dois). E para abrir esses trabalhos, quem melhor que Bahamut, o rei dos dragões?

Antes do texto em si, gostaria de ressaltar que não sou nenhum especialista e nem tenho pretensão de fazer um guia definitivo. Fiz meu trabalho de pesquisa, claro, mas caneladas podem acontecer e minha intenção aqui é servir como porta de entrada para novos assuntos. Por isso convido você leitor que fique a vontade para corrigir ou apontar algum fato que tenha faltado. O importante é espalhar conhecimento!

Queria ser um peixe…

Uma das criaturas mais imponentes e importantes da saga Final Fantasy tem origem na mitologia árabe e sua primeira “encarnação” é bem diferente do poderoso dragão ao qual estamos acostumados. Na real, no começo Bahamut era uma grande criatura marinha – geralmente um peixe, mas há registros como serpente ou mesmo uma baleia – que sustenta toda a criação! Isso mesmo, estamos falando de algo de escala astronômica!

É interessante notar como é feita a construção dessa existência. Bahamut em sua imensidão dá suporte a um boi mitológico chamado Kujata que em suas costas carrega uma pedra de Jacinto, a qual reside um anjo que segura a Terra e os 7 céus. Até então nosso planeta zanzava por ai sem direção, até Deus criar esse esquema todo para a gente ficar quieto em um canto.

Essa concepção do mundo é descrita com muitos detalhes pelo livro The Wonders of Creation, escrito por Zakariya al-Qazwini (1203–83). Nascido no Irã, alQazwini tinha vários oficios: médico, geógrafo, astrônomo e físico. Vale notar que ele não criou o mito, mas compilou informações de diferentes lendas e histórias do povo árabe, ilustrando tudo que abrangia essa mitologia. Até onde entendi, o livro possui um caráter até “enciclopédico” ao catalogar e ilustrar entidades e fatos importantes.

Ilustração de Zekeriya Kazvinî com data do século XVI

Antes de continuar com a história de Bahamut, quero abrir um parenteses para falar de Behemoth (ou Beemote). As duas palavras carregam a mesma origem, mas essa segunda se deriva no hebraico. Ainda que sejam semelhantes, os termos se referem a coisas bem diferentes. O Behemoth é uma das três bestas lendárias descritas no Velho Testamento da Bíblia , no livro de Jó, 40:15-24. Senhor da terra, o Behemoth divide espaço com Leviatã, rei dos mares e Ziz no céu. De acordo com o mito, de forma bem resumida, no fim dos dias Behemoth e Leviatã lutarão até a morte e depois servirão de comida para os escolhidos.

É interessante notar que o Behemot também é uma criatura recorrente em Final Fantasy, com um visual um pouco mais feroz, mas baseada nessa versão terrestre. Contudo, nunca teve importância narrativa muito grande nos títulos principais se comparado ao grande dragão.

Behemot de Final Fantasy XV

Que os jogos comecem

Voltando ao protagonista do artigo, já sabemos que criatura chamada Bahamut teve sua origem em uma besta do mar gigante. E quando ela virou um dragão todo poderoso? Nos anos 70, em Dungeons & Dragons! A primeira menção a um Rei do Dragões aconteceu em 1975 no suplemento Greyhawk. O nome de fato só foi dado em 1977 no Manual de Monstros da primeira edição do Advanced Dungeons & Dragons. Dentro do famoso RPG, Bahamut é o deus Dragão, que prima pela justiça, sabedoria e conhecimento. Uma criatura virtuosa que não perdoa o mal de forma alguma.

E foi baseada nessa versão que surgiu Bahamut da franquia Final Fantasy, muito embora suas encarnações variem bastante de jogo para jogo. Sua estréia foi no primeiro título da série, de 1987. Nessa oportunidade o rei dos dragões é um NPC que permite aos heróis evoluírem suas classes, liberando novas técnicas e magias para cada um deles. Podemos dizer que essa primeira edição é uma das mais próximas da entidade do D&D.

Sua segunda aparição foi em Final Fantasy III como chefe e, uma vez derrotado, uma magia de invocação. Aqui temos a primeira versão de um dos seus principais golpes, Mega Flare, característico por infringir alto dano não elemental. Nas interações seguintes, o dragão sempre aparece, de maneira gera, como um oponente desafiador e uma das summons mais fortes disponíveis para os heróis.

Para fechar o texto quero trazer dois exemplo recentes e interessante de interpretações de Bahamut. Em Final Fantasy XIV as tradicionais criaturas são conhecidas como primals e, via de regra, a presença deles sempre é danosa. E sendo o rei dos dragões uma criatura de um poder inimaginável, foi ele o responsável pela quase destruição do mundo, no evento que “acabou” com o jogo base e, futuramente, deu origem a “A Realm Reborn”. E protagoniza a da cena de animação mais bonita da história da Square Enix, na minha opinião.

Outro destaque é o de Final Fantasy XV que não é um dragão de fato, mas uma divindade de forma humanoide, vestindo uma armadura de dragão. Sem entrar no terreno dos spoilers, essa figura volta a carregar alguns traços da personalidade da criatura de D&D, que prima pela justiça e na luta do bem contra o mal acima de tudo, característica que não andava muito evidente nos jogos da Square Enix.



Bruce

Jornalista, Game Designer e perito na arte das piadas de qualidade questionável. Adora sofrer em soulslike, perder horas em jRPGs e passar a vida no Final Fantasy XIV