Assassin’s Creed Odyssey – as vezes menos é mais

Aproveitando esse período “entressafra” de lançamentos — e o corte nas verbas para ficar gastando com jogos — finalmente pus as mãos em Assassin’s Creed Odyssey no final de 2019. Sou fã da série de longa data e o renascimento da franquia com o Origins foi ótimo. Coloco o jogo do guerreiro medjai Bayek no mesmo nível de AC II e Broterhood na minha lista pessoal. Assim, eu tinha esperanças que Odyssey era aposta ganha. Bom, infelizmente não foi bem assim e o motivo é ele ser grandioso demais. Um desencontro entre histórias e decisões de design que, pelo menos para mim, quebraram com a fluidez do jogo.

Odyssey dá vários passos adiante no sentido de levar a série a se tornar um autêntico RPG, coisa que começou a ser feita em Origins. Mas no desejo de buscar algo sempre maior, as cordas que amarram as bases do game acabaram sendo comprometidas. E isso afetou alguns dos pontos chave que fazem, na minha opinião, um bom Assassin’s Creed. A começar pela história principal do game e sua relação com a evolução do protagonista (vou citar aqui Kassandra pois foi a minha escolha, mas vale o mesmo para o Alexios).

Assassin’s Creed® Odyssey

Ao contrário de outros jogos da série, nos quais já conhecíamos as motivações do herói logo de começo, Odyssey tem um ritmo mais lento, fato em si que não é problema. Contudo o avanço da narrativa é detonado pela evolução de nível e o excesso de missões que, de forma bem prática, não levam a lugar nenhum. Vou dar um exemplo: logo que chegamos à Atenas (e isso ocorre após alguma horas de jogo), nos é prometido por Péricles, governante da Cidade-Estado, um convite para um evento no qual encontraremos pessoas que podem nos ajudar na busca de um indivíduo específico importante para a trama. Mas antes disso, temos que “merecer” esse convite, fazendo uns trabalhos pela cidade — roubar um item, salvar um zé qualquer, etc.

Pois bem, chega o momento da dita festa, na qual obtemos três possíveis paradeiros para a pessoa que procuramos. E o que acontece depois? Em cada um desses locais encontramos um NPC que pede alguns favores em troca de informações e lá vamos nós de pombo-correio de novo. Tudo bem que Kassandra é uma mercenária de ofício, mas o pessoal exagera. Depois de todo esse trabalho, o retorno é bem pouco. Com o objetivo de mostrar a grandiosa Grécia o jogo nos obriga a fazer muitas atividades que o acabam tornado até meio chato. Sério, esse trecho da história poderia ser resumido pela metade e não faria a menor diferença.

Infelizmente o problema de ritmo se mantém no prosseguimento do game. Surge algo importante para ser resolvido, mas não antes de séries de missões para provar meu valor ou qualquer desculpa que o valha. Eu acabei de chegar em Esparta e já tive que sair para resolver uns pepinos para, quem sabe, a história continuar adiante depois de tudo. E são missões grandes, com vários objetivos secundários e com um bom nível de dificuldade.

Assassin’s Creed® Odyssey – Achei que a HUD não tinha saído…

Uma odisseia complicada

Vale aqui entrar em outro ponto diretamente relacionado ao primeiro, o sistema de níveis. Apesar de uma campanha “inchada” pela excesso de missões, isso não se traduz em pontos de experiência. Fazendo majoricamente as missões da história principal cheguei em um ponto chave — a primeira vez que você vai para Esparta —no qual, do nada, eu estava OITO NÍVEIS abaixo do mínimo recomendado. Não havia outra opção a não ser arrumar o que fazer até pegar level. E o grind para prosseguir desse ponto em diante se tornou algo comum e chato. Caçar uma missão secundária para poder fazer um objetivo secundário de uma das partes da missão principal para, após um tempo, poder avançar no game. Por Zeus…

Ainda nessa busca pela grandiosidade Odyssey divide sua história em três ramos e o que deveria agregar acaba dividindo forças. Em AC Origins a trama da sociedade secreta e a jornada de Bayek andavam juntas conforme explorávamos o Egito Antigo. Aqui, embora o “Culto ao Cosmo” seja o grande vilão, caçar a maioria de seus integrantes é literalmente uma jornada paralela. Sem contar o terceiro grande arco, do povo antigo, que é jogado na sua cara e depois nunca mais citado na história. E tem coisas lá que são MUITO IMPORTANTES para a Kassandra.

Parece que Odyssey embora seja um jogo de grandes pretensões, na vontade de fazer tudo da melhor forma possível, peca em pontos chave de design. A campanha principal por si só não se sustenta com sua evolução ao mesmo tempo que é inchada para parecer mais densa do que ela é de fato. Em paralelo outros arcos vitais para a trama são colocados como aventuras paralelas, enfraquecendo a jornada de Kassandra.

Apesar disso tudo, colocando todos os prós e contras na balança, ainda acho Odyssey um bom jogo. Mas com a sensação de que poderia ter sido muito mais se tivesse escolhido não ser tão grande.



Bruce

Jornalista, Game Designer e perito na arte das piadas de qualidade questionável. Adora sofrer em soulslike, perder horas em jRPGs e passar a vida no Final Fantasy XIV

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