Análise: The Legend of Tianding

O começo do século XX foi um período bastante tumultuado no Extremo Oriente, muito pela atuação agressiva do Japão em sua política expansionista, o que causou uma série de ações que até hoje ainda deixam cicatrizes. Entre esses conflitos está o domínio sobre a ilha de Taiwan, que foi uma colônia japonesa entre 1985 até o final da 2ª Guerra Mundial. Um recorte da história que não costuma ser muito retratado, especialmente em jogos.

É dentro desse momento histórico que se passa The Legend of Tianding, jogo desenvolvido pelo estúdio taiwanês CGCG e que se passa nesse período, mostrando um pouco do outro lado dessa história. Além do destaque pela representação histórica, o jogo se sai muito bem na parte técnica sendo um interessante game de ação dos moldes dos beat’m ups mais competentes. O título está disponível para Steam e Switch.

O protagonista do jogo é Liao Tianding, figura que de fato existiu e chegou a ganhar o apelido de “Robin Hood de Taiwan” por sua atuação contra o governo japonês na época. Acabou se tornando um símbolo da resistência local para a população, especialmente da capital Taipei. Na aventura aqui retratada, Liao já é conhecido por seus feitos e por inspirar as pessoas contra a repressão japonesa.

Essa aventura é contada por animações que remetem histórias em quadrinhos, com onomatopeias e a sobreposição de quadros que simulam uma página de revista. Um visual muito bonito, que também se beneficia dos belos gráficos, artes coloridas e bem animadas que ajudam a facilmente se aprofundar na trama. De acordo com a produtora, outras situações e personagens que aparecem no jogo se baseiam em momento e figuras reais, além do próprio herói.

Liao Tianding é um lutador de kung-fu e faz uso de toda sua técnica para combater seus oponentes. Embora comece só com o ataque básico, não demora muito para termos acesso a todas as habilidades básicas do herói, que também não são muitas, mas se conectam muito bem. É fácil pular para próximo de um inimigo, jogá-lo para cima, continuar o combo e descer com um ataque de impacto.

Fica meu elogio aqui para a um aspecto da “física” do jogo. Tanto você como seus inimigos estão suscetíveis ao mesmo tipo de dano. Por exemplo, espinhos na parede, explosões e armadilhas que foram colocadas para te impedir podem ser usadas ao seu favor no meio da luta.

Existe também uma segunda mecânica que permite roubar as armas dos inimigos com o cinto especial de Tianding. Praticamente todas as armas de inimigos comuns podem ser pegar: espadas, bastões, machados e até mesmo armas de fogo. Ao serem pegas elas possuem um número específico de usos, não sendo possível levar essas armas muito longe.

Mas não tem como melhorar o status do personagem, você se pergunta? Tem sim, através de diversos aprimoramentos espalhados pelo jogo. Alguns são pegos pela história, outros em baús secretos e também ajudando o povo. Durante os momentos de história, no qual andamos pelo mapa, passamos por moradores de rua pedindo dinheiro. Ao ajudar, geralmente eles nos recompensam com essas habilidades. Lembra da ideia de Robin-hood?

Essa é uma das formas da qual jogo usa para mostrar o quão o protagonista é uma figura importante naquele meio. Logo nos primeiros momentos já aprendemos como sua figura é importante e inspiradora para os locais contra os colonizadores japoneses que são os vilões nessa trama. Essa visão se torna ainda mais interessante por ser de um estúdio local, próximo a essa realidade.

Vale notar aqui a clara divisão no gameplay entre as parte de combate com as parte de história. Não espere um jogo de ação contínua como um Streets of Rage por exemplo. Há momentos que temos de “calmaria” e é possível até andar livremente pelas ruas de Taipei, que as vezes parecem um pouco maiores do que deveriam. O jogo também traz algumas missões paralelas que podem ser feitas junto com a principal.

Sobre as melhorias citadas anteriormente existem muitas delas mas, ao mesmo tempo, elas não tem tanto peso na aventura. Isso porque a ordem que você as ganha é aleatória então, para equilibrar isso, elas trazem sutis alterações. E sinceramente isso não conta como ponto negativo, pois o pesado do gameplay, o jogo te dá ao longo da história. No fim das contas, acaba sendo mais um colecionável a mais.

The Legend of Tianding é um jogo que faz muito bem tudo que se propões a fazer. A parte técnica é muito bem afiada, com uma parte gráfica bem polida e um sistema de combate eficiente e que, por conta da mecânica de roubo de armas, consegue ser bem dinâmico. Há melhorias diversas que podem ser adquiridas ao longo da campanha que contam mais para o colecionismo do que por mudanças significativas. Como dito antes, não chega a ser um problema, pois a essência do combate segura muito bem.

Como pontos baixos, posso comentar sobre a falta de variedade de inimigos, geralmente variações de soldados e policiais e talvez algumas partes de história funcionassem melhor se fossem um pouco mais curtas (ou divididas). Não é nada que comprometa o todo, mas como gostei muito do combate, gostaria de ter mais dele. Mas são pontos menores, sem dúvida.

Mas o mais interessante de tudo é a representação histórica de Taiwan do começo do século XX, um cenário pouco explorado na produção cultural – ou ao menos daquelas que temos acesso facilmente desse lado do globo. É sempre bom termos visões diferentes do mundo, é algo que nos engrandece. Falando em jogos, sempre é uma boa oportunidade quando tempos acesso a projetos produzidos fora dos grandes centros. E quando são bons títulos, melhor ainda.

Análise produzida com cópia digital de PC (Steam) cedida pela Neon Doctrine