Análise: Disgaea 6 Complete

Disgaea 6 Complete é uma versão aprimorada de Disgaea 6: Defiance of Destiny, que chegou ao mercado em 2021 para PS4 e Switch. Essa edição completa, que conta com DLCs produzidos pós o lançamento oficial, estreou no PlayStation 4, PlayStation 5 e PC (Steam) no final de junho.

Quem conhece Disgaea sabe que grinding é um termo que de certa forma define a franquia. Mas apesar da série apresentar níveis acima da média durante sua gameplay constantemente, era comum a história principal acabar abaixo do nível 150, nível esse que é alcançável em menos de 10 minutos de combate. Disgaea 6 Complete basicamente olha para a ideia de grind e pensa: “Por que não elevar ela ao quadrado?”. Ele pega o conceito de “nível 9.999 ser apenas o começo” e chega ao ponto de definir o nível máximo, o nível 99.999.999, durante o seu pós-jogo.

A franquia basicamente deu mais um passo rumo aos números altos, mas será que foi um passo na direção correta? Muitos de seus elementos de história e gameplay seguem o caminho de edições anteriores, uma narrativa com um humor peculiar, um combate em turnos alternados, nos quais o jogador pode controlar até dez unidades por batalha.

Mesmo que os clássicos sistemas de maestria de armas e de habilidades tenham sido mantidos, infelizmente as habilidades adquiridas por masterizar armas, armas exclusivas de unidades tipo monstro, magichange e diversas classes que apareceram em todos os títulos até então como as nekomatas e female cleric, não deram as caras nesse sexto capítulo, sendo a primeira vez que tantas coisas foram retiradas ao mesmo tempo de um jogo para outro. Tais mudanças afetam negativamente a experiência do game, não apenas por tirar variedade de opções para o jogador mas também por serem coisas únicas que fazem parte de Disgaea desde antes dos prinnies se alimentarem de sardinhas.

O combate não teve muitas alterações além das remoções já comentadas, mas recebeu duas novas opções que a meu ver poderiam ser introduzidas mais tarde ou até no pós-jogo: o Auto-battle+Auto-repeat. O auto-battle permite que você crie sua própria inteligência artificial para que suas unidades sigam comandos pré-estabelecidos, enquanto o auto-repeat simplesmente recomeça uma batalha após sua conclusão, auxiliando absurdamente no grind e no farm para o jogador, principalmente caso queira utilizar mais de dez unidades ou esteja a caminho do pós-jogo.

No entanto, essas opções possuem o potencial de facilmente quebrar a progressão em Disgaea 6, uma vez que deixar suas unidades batalhando no automático por dez minutos enquanto você sai para preparar um chá, é o suficiente para deixá-las em níveis superiores ao dos inimigos durante pelo menos dois capítulos inteiros. Felizmente ainda é possível utilizar de recursos como o Cheat Shop para aumentar o nível dos inimigos e/ou reduzir certas recompensas de lutas, para evitar esse desequilíbrio. É possível zerar a experiência recebida ao mesmo tempo que você aumenta o dinheiro adquirido por batalhas pra comprar sardinhas… Dood!

Aproveitando para falar sobre essa progressão que é facilmente quebrada pela automatização, os atributos dos personagens sobem de forma surpreendentemente saudável durante a campanha principal, mesmo adquirindo mais de 10 níveis com todas as unidades por combate. Logo no início é bem fácil de levar um susto já que estar no nível 1 com 26.000 de ataque é bem esquisito, mas além de ser possível se acostumar com o tempo, por volta do nível 50 o seu ataque ainda vai estar próximo de 27.000. O que quero dizer com isso é que a sensação de níveis fazerem uma diferença enorme nos estágios iniciais, que era algo tão recorrente na franquia, não ocorre em Disgaea 6. Ganhar 1.000 de ataque em 50 níveis é um aumento de menos de 5% do ataque inicial do personagem.

Essa progressão é ainda mais natural quando toda a experiência adquirida durante o combate é dividida igualmente entre os participantes, permitindo que todos permaneçam em níveis próximos uns dos outros, sem que uma unidade que finaliza mais oponentes acabe recebendo uma grande vantagem de experiência. Mas para não dizer que todos vão estar sempre igualados em experiência, algumas unidades ganham vantagens ao fim do combate por terem feito coisas específicas; ser a unidade que mais curou durante a batalha gera 70% de experiência bônus para a unidade em questão, por exemplo.

Mesmo com mudanças, a essência da gameplay de Disgaea permanece nesse sexto capítulo, e o mesmo pode ser dito de seu enredo. Nessa aventura nós acompanhamos Zed, um zumbi qualquer (ou não… ou sim?) que quer destruir o Deus da Destruição com o auxílio da Super Reencarnação, magia que permite que Zed reviva quantas vezes e em quais lugares sejam necessários para poder enfrentar este Deus, se tornando mais forte a cada reencarnação. Os motivos por trás desse desejo são revelados ao longo da história.

Com o passar dessas reencarnações Zed encontra companheiros peculiares e completamente desajustados, mas dispostos a se unir contra o Deus da Destruição. Um rei rico que tem como características ser rico, ter dinheiro e comprar as coisas com dinheiro porque é rico, uma princesa que quer ter um final feliz após perder 665 príncipes em busca de seu final feliz, uma prism ranger que luta pela justiça mas que ainda não sabe o que é a justiça por qual ela luta, e uma garota mágica que não gostaria de ser uma garota mágica mas que sempre sonhou em ser uma garota mágica.

O humor baseado em falta de lógica e piadas sarcásticas que existe desde o primeiro jogo dessa franquia é bem nítido em Disgaea 6, e com direito às clássicas vinhetas de “no próximo capítulo” que falam sobre coisas completamente desconexas com o que está acontecendo na trama, com referências que são ainda mais aleatórias do que antes. Mesmo com essa falta de lógica, os personagens possuem motivações que justificam o que estão fazendo, e eu diria que são motivações bem válidas.

Enquanto “Disgaea 4: A Promisse Unforgotten” e “Disgaea 5: Alliance of Vengeance” tinham como tema principal a “promessa” e a “vingança”, Disgaea 6: Defiance of Destiny possui “desafiar o destino” como um tema recorrente, e mesmo aparecendo em contextos que poderiam ser mais explorados, funcionam muito bem em Disgaea, que é mais voltado para comédia do que para o drama.

A parte artística de Disgaea 6 é onde tenho minhas maiores críticas. Começando falando da parte boa, as músicas são excelentes e passam a sensação de que você está jogando Disgaea; uma sensação nostálgica mesmo que esteja ouvindo uma música pela primeira vez em um jogo que você nunca jogou, principalmente quando prism rangers entram na equação.

Já os gráficos não são um ponto forte do jogo, e o problema não está no fato da transição do 2D para o 3D, mas na falta de expressividade que o jogo possui. Em jogos anteriores era comum você ter dois personagens em um momento minimamente sério enquanto outros que não são relevantes no momento (geralmente prinnies) fazem palhaçadas, dançando, comendo ou se estapeando. Dessa vez, apenas o personagem que está falando se mexe durante a cena e seus movimentos são sempre os mesmos: giram no próprio eixo, levantam os braços, abaixam os braços, ficam em animação de combate ou de dano recebido.

Não é possível ver a expressividade que trazia tanta recompensa visual na franquia, sendo que esse jogo possui uma quantia menor que a metade de classes disponíveis que o anterior. Suas artes em 2D no entanto, trazem essa expressividade de volta. Com cada personagem tendo poses únicas para quando estão felizes, tristes, inspirados, com raiva, etc.

Disgaea 6 Complete traz mudanças de qualidade de vida para a pessoa que decide passar por essa experiência, e qualidades de vida que podem agradar até mesmo antigos fãs da franquia. Definitivamente foi o jogo da série que mais me senti confortável em ter mais de vinte personagens sendo utilizados, e muito disso se deve pela facilidade de upar todos eles graças à como a divisão de experiência é feita. Porém, a ausência de algumas mecânicas clássicas da franquia, que traziam uma complexidade muito importante para a gameplay,  pode deixar o jogo muito monótono e fazer com que você jogue ele apenas pela história, sem a vontade de “botar a mão na massa” e grindar por conta própria.

Como um fã de Disgaea, eu gostei do jogo e consigo querer rejogar esse sexto game. Recomendo para outros amantes da franquia deem uma chance pois ele pode surpreender positivamente com algumas mudanças. Mas é importante ter em mente que algumas mecânicas tão divertidas foram removidas e isso empobrece o combate em relação aos outros títulos da série, principalmente os mais recentes.

Caso você nunca tenha jogado algo da franquia mas tenha se interessado principalmente pela facilidade de grind utilizando auto-battle e com a experiência compartilhada, também recomendo dar uma chance pois pode se surpreender. Mas se você só se interessou pela história e a ideia de humor, Disgaea 5 pode ser uma opção mais agradável.

Análise produzida com cópia digital de PC (Steam) cedida pela NIS America



Taensland

Um professor de biologia amante de abacate e RPGs de turno, que adora conversar sobre a gameplay de jogos estratégicos