Sonic Forces — Análise

Em 2016 nosso querido amigo Sonic the Hedgehog comemorou 25 anos de vida . Durante um evento especial feito pela Sega naquele ano, dentro da San Diego Comic Con, foram anunciados não um, mas dois novo jogos do azulão para 2017: Sonic Mania e Sonic Forces. Enquanto o primeiro seria uma volta aos tempos de Mega Drive, o segundo seria o próximo passo na evolução da franquia.

Vamos saltar para o ano seguinte. Sonic Mania foi amplamente elogiado pela crítica e público. Seu desenvolvimento foi liderado por Christian Whitehead que ganhou fama ao criar jogos não-oficiais de Sonic e depois, em parceria com a própria Sega, fazer o port de Sonic CD para celulares. É um cara que sabia o que estava fazendo e mostrou que nosso querido mascote ainda tinha muitas argolas para pegar.

Mas ainda havia um segundo jogo do azulão, esse encabeçado pelo próprio Sonic Team. Depois de “Sonic Boom” um game um tanto quanto questionável (mas com uma série animada incrível), a promessa foi que Forces retomasse o caminho dos ótimos Colors e Generations. A volta do Sonic “gordinho” e a inédita função de criação de personagens só colocavam o hype da galera lá no alto. E ai Forces saiu no último dia sete e bem… é sobre isso que vou falar aqui.

Uma montanha-russa que sobe…

Sonic Forces foi o jogo que mais me deixou com sentimentos misturados por um bom tempo. Mesmo agora eu ainda não poderia responder simplesmente “sim” ou “não” se alguém me perguntasse se ele é um bom jogo. Então vou por partes e primeiro falar do que ele faz bem, a começar pelos gráficos, que fazem uso da segunda versão da “Hedgehog Engine”, motor gráfico que desde a época do Sonic Unleashed sempre fez um bom trabalho. Sendo esse o primeiro jogo da franquia para a nova geração de consoles, os visuais realmente estão muito bonitos, com efeitos diversos e muitos detalhes. Renderizar um jogo do Sonic, especialmente as fases modernas, dá trabalho pois elas geralmente são longas e exigem que tudo seja feito muito rápido, pela dinâmica do jogo.

Outro ponto que me agradou bastante no jogo foi a história. A ideia do Dr Eggman/Robotnik ter conquistado o mundo todo e nos tornarmos parte da última resistência ficou bem legal. As vezes os personagens se levam a sério demais, deixando as coisas um pouco “trash”? Talvez, mas faz parte do charme

Nada disso é bom, Vector. É por isso que é chamado de “guerra”!

Falando em nos juntarmos à Resistência, entro no ponto que é o grande atrativo do jogo: a criação do nosso próprio avatar, que vai correr lado a lado com Sonic. Se tem alguma coisa que esse jogo faz muito bem é esse sistema. São dezenas de opções de customização e as possibilidades de criação são infinitas. Se a internet já pirava criando personagens originais de Sonic antes de Forces, hoje então nem se fala.

A trilha sonora do jogo é muito boa no geral, variando entre vários sons de rock até eletrônico. Quero destacar a música tema, “Fist Bump” que definitivamente entrou no meu top 5 de trilhas de Sonic.

…também desce

Sonic Forces tem problemas e não são poucos, mas que podem ser resumidos em uma única palavra: design.

Começando pelo level design, que é, no melhor dos casos, fraco. Esse quesito é um dos mais importantes em um game pois é quando o desenvolvedor elabora especificamente o ambiente no qual o jogador irá passar, ponto a ponto. É o que determina o equilíbrio entre um game ser desafiador, frustrante ou monótono, ao mesmo tempo que irá ensinar ao jogador as regras daquele mundo, o que ele pode e não pode fazer, mecanicamente falando. Megaman X faz um ótimo trabalho nisso, e existe um ótimo vídeo que explica essa teoria caso queira se aprofundar no tema.

Os jogos de Sonic de maneira geral trazem um design de fases interessante, nos quais exploração e velocidade são postas lado a lado. Porém “Forces” parece que desaprendeu tudo com seus antecessores e nos traz um level design pobre quando comparado com seus irmãos mais velhos. Ainda existem caminhos alternativos, mas é tudo tão fraco e simplório. Veja esse vídeo que compara a primeira fase de Forces e Generation.

Considero a primeira fase de Forces como uma daquelas que trata o jogador como um imbecil. Perceba as diversas quebras de ritmo feitas pelas “dicas”, que não passam de uma forma preguiçosa do desenvolvedor passar algo ao jogador, ao invés de fazer isso usando o próprio level design. Esse primeiro nível é tão fraco que nem os inimigos tem alguma reação, sendo literalmente cones no meio do caminho.

O triste é que esse sistema simplório se alonga pelo resto do jogo. Com poucas exceções, as fases do Sonic moderno se limitam a corredores simples e sem muita criatividade. O mesmo mal se acomete para estágios do Avatar e do Sonic Clássico, esse último talvez o que mais sofra desse problema. As fases do “gordinho” nem de longe lembram os maravilhosos estágios de Sonic Mania ou mesmo as ótimas fases de Generations, as quais possuem um ritmo muito bom.

Uma alteração significativa feita nesse novo título foi a remoção das vidas. Quando você morre volta direto para o último checkpoint tantas vezes forem necessárias. Podemos supor que isso somado as fases mais curtas foi uma decisão do Sonic Team de fazer “Forces” um jogo de tentativa e erro. Conceitualmente é um aspecto interessante para ser trabalhado, mas a execução pecou bastante. Uma das marcas dos games do azulão são seus estágios marcantes e cheios de detalhes e segredos. Junto a isso, esse estilo de tentativas rápidas é muito comum em games difíceis — Super Meat Boy, por exemplo — e “difícil” definitivamente Sonic Forces não é.

Falando em cenários, preciso citar a falta de criações novas. As trinta fases são divididas entre seis locações, dentre as quais três são bem conhecidas de jogos recentes: Green Hill, Chemical Plant e City (de City Escape). Eu gostei de ver uma Green Hill meio desertificada e uma City toda destruída, mas um maior número de cenários novos fez muita falta. Sabe aquela impressão de que muitos dos assets ali usados foram só reaproveitados de games antigos?

Resumindo: estágios curtos, sem variações e com temáticas já vistas em outros jogos fazem Forces estar muito aquém de seus antecessores, dando alguns passos atrás em um caminho no qual Sonic vinha evoluindo de maneira muito interessante. Ainda fechando esse bloco, gostaria de falar sobre alguns problemas no enredo. Como eu disse, eu gostei bastante da plot principal, mas alguns pontos me incomodaram. O Sonic Clássico é pouco aproveitado e parece estar no game só para remeter à nostalgia. O time de vilões clássicos, apresentados em um trailer inclusive, são meros figurantes. Um deles em especial é derrotado quase que sem querer e aparece em somente DUAS cenas.

Esse é Bruce The Hedgehog

Sonic Forces é um jogo complicado, que mantem a tradição de jogos do Sonic em trazer coisas novas, porém falha tanto na concepção das ideias como na execução. Ele continua sendo um bom jogo de “corrida”, no qual o desafio de fazer o menor tempo é uma das principais diversões. Criar seu próprio personagem e ver ele interagindo com Sonic e os outros é bacana e admito que essa edição de avatares me tomou mais tempo do que eu achava que iria.

Como sempre, eu digo que cada um deve jogar o jogo e tirar suas conclusões. Vi muita gente gostando bastante de Forces e eu consigo enxergar os motivos para tal. É possível tirar boas horas de diversão com ele, apesar de todos os pesares, se você não se incomodar com os problemas. Fico triste pelo potencial do que poderia ter sido, mas sempre existe um próximo jogo do Sonic, não é mesmo?



Bruce

Jornalista, Game Designer e perito na arte das piadas de qualidade questionável. Adora sofrer em soulslike, perder horas em jRPGs e passar a vida no Final Fantasy XIV

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